quarta-feira, 6 de maio de 2009

Comentário à fotografia de ANDRÉ KERTÉSZ

"A imagem distorcida no espelho é semelhnte à pintura de Tarsila do Amaral, Abaporú. As distorções parecem se referir à própria virtualidade da imagem, sua potência de ficção. A cabeça diminuta , as pernas agigantadas e os braços alongados, como se fossem elásticos, são como fantasmas do reflexo no espelho, referentes ao acontecimento inédito entre reprodutibilidade e ficção..."
Ana Luiza Andrade

Um pouco mais sobre o fotógrafo
em http://www.nga.gov/exhibitions/2005/kertesz/kertesz_ss1.shtm

Simulacro e narrativa




Dois textos do Antoine Compagnon, O Simulacro e Mostrar. Ambos fazem parte d'O Trabalho da citação (reeditado pela ufmg em 2007). Neles, Compagnom traça um curto trajeto do problema da mimésis e da hierarquia das imagens discutida na República por Platão. Segundo Platão a cadeia hierárquica seria composta assim: 1º eidos (ideia) 2º eidolon (cópia) 3º phantasma (cópia da cópia ou simulacro). Ou seja, para Platão o terceiro grrau da hierarquia seria a perverção do modelo, não teria valor. N o entanto no Sofista, aparece uma relação diferente entre Platão e a imagem ( sempre as imagens). Passa a considerar a cópia da cópia como imagens más e fabricantes de ilusão. Passa-se assim a uma questão de discurso, de narrativa (diégésis), de divisão do discurso em direto e indireto. Platao considerava o discurso indireto com oa imagem e o indireto com o imagem má. Não e de se espantar, pois o discurso indireto foi oescolhido por ele para elaborar seus diálogos e narrar o pensamento de Sócrates. Podemos pensar então que o acontecimento se dá no atrito destes corpos, ou seja, quando o sujeito choca sua 'voz' com o discurso a que va narrar ou ainda, quando escrevemos para criar um outro corpo que inevitavelmente (esperamos) se chorcará com outro e este lhe atribuirá um sentido diverso daquele que o motivou a ser escrito. cito Compagnon

"Em resumo, a repetição (o discurso direto ou a citação) seria condenável menos por realçar a mimésis que por ser um simulacro, imagem má: ela é animada pela malícia, é geradora de não-ser e indutora de falsidade; assemelha-se aos procedimentos sofistas que usam e abusam do poder mágico do logos para produzir a ilusão e a trapaça, o discurso sem denotação."

Importante neste problema é o limiar. o território onde se encotra o corpo que recebe esta imagem (leitor, espectador) sem esta outra margem não há o simulacro, nada acontece. mas isso já nçao seria um acontecimento? O vazio?E quando este simulacro aquiquire autonomia sem que precise de um modelo? Quando a imagem criada seja flutuante, que já não esteja com a âncora lançada ao fundo do mar, ao lodo do modelo? O phantasma à solta.

Não à toa surge Pierre Ménard. Não à toa A rainha dos cárceres da Grécia de Osman Lins. Aqui o escritor repete o livro homônimo mas dispensa o modelo, não o acessamos, temos apenas outros semblantes dados pelo narrador do diário, o arconte, aquele que tem o arquivo, mas não tem memória, esquece-se de si mesmo; é seu próprio fantasma.


******************

Encontrei este texto sobre Deleuze
http://publique.rdc.puc-rio.br/revistaalceu/media/alceu_n9_abreu.pdf

terça-feira, 5 de maio de 2009

Onde encontrar fantasmas?

O Fantasma do passado - Kurt Seligmann- 1942

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O acontecimento e o fantasma


A pauta atual do NEBEN está focada nos estudos em torno do fantasma e do acontecimento, a artir de textos de Gilles Deleuze, Giorgio Agamben, Michel Foucault e JEan-Luc Nancy.

Lemos em Foucault no texto Theatrum Philosophicum:

"Emissões que vêem da profundidade dos corpos e se elevam como farrapos de bruma.Fantasmas do interior, rapidamente reabsorvidos em uma outra profundidade pelo olfato, pela boca, pelo apetite; pel[iculas absolutamente tênues que se destacam da superfície dos objetos e vem impor, ao fundo de nossos olhos, cores e contornos...fantasmas do medo e do desejo"

Entre o estatuto da imagem que prioriza o original e desqualifica a cópia, o fantasma vaga em uma dimensão impalpável, ronda a espécie, faz esta brilhar diante dos olhos dos homens. Gera um acontecimento que faz mover o sujeito em direção da imagem, do objeto desejável. A peso do acontecimento na aparição do espectro, da mercadoria ou do horror cria uma força de elasticidade que faz com que a superfície do real se extenda e ramifique. "os fantasmas prolongam os organismos no imaginário, eles topologizam a materialidade do corpo." diz Foucault. A topografia moderna é desenhada em um mapa de saturação destas imagens tornando-se assim um mapa de um território espetacular.

ps. A foto é de
Andre Kertesz, Distortion #88, 1933.